Esta unidade curricular propõe-se reflectir sobre alguns exemplos significativos da produção crítica, literária e artística portuguesa, analisando momentos cruciais do pensamento nacional desde finais do século XIX até à actualidade, de modo a atingir-se uma visão global caracterizadora da cultura portuguesa. Partindo de uma reflexão inicial sobre o conceito de "cultura" e de “identidade” nacional, serão lidos alguns autores de referência e seguidamente far-se-á uma reflexão sobre o papel e valor da arte na definição cultural de um povo. Procurando detectar alguns traços identitários portugueses (melancolia, saudade, religiosidade, auto-reflexividade) serão abordados 3 diferentes autores relacionados com 3 representações artísticas de natureza narrativa ou para-narrativa: Camilo Castelo Branco (novela), José Régio (drama) e Manoel de Oliveira (cinema). Tais autores serão tidos como figuras paradigmáticas, a partir das quais se estabelecerão contrastes com outros autores portugueses. Nas reflexões finais, durante as quais se pretenderá fazer um diagnóstico cultural português, far-se-á a ligação ao papel da universidade como produtor de conhecimento crítico e juízo cultural.
Cultura; identidade; narrativa; teatro; cinema
No final desta unidade curricular, o doutorando deverá estar em condições de:
‒ compreender traços definidores do conceito, ou conceitos, de "cultura";
‒ determinar aspectos predominantes na identificação da cultura portuguesa;
‒ definir e problematizar conceitos-chave como saudosismo, identidade, nação, cultura, entre outros;
‒ reflectir acerca da ontologia da representação narrativa
‒ contrastar teoricamente a literatura narrativa com o drama e o filme
‒ distinguir o papel desempenhado por cada uma das figuras literárias/artísticas estudadas.
‒ fazer um diagnóstico cultural sobre Portugal e sobre o papel da universidade no mesmo
I – Reflexão prévia sobre os conceitos de "cultura" e "identidade" nacional
II – O papel da literatura e das artes na definição cultural; alguns traços identitários portugueses
III – Da narrativa em geral e da literatura em particular. O caso de Camilo Castelo Branco
IV – Do teatro como “poesia humana”. José Régio e a inquietação religiosa
V – Do cinema como arte do tempo. Manoel de Oliveira e uma visão da história e da cultura de Portugal
VI – Reflexões finais. Papel da universidade na consciência cultural portuguesa
Obras de leitura obrigatória (na totalidade ou em parte):
Baecque, A., & Parsi, J. (1999). Conversas com Manoel de Oliveira. Porto: Campo das Letras.
Barata, André (2011). A mobilização reemergente do complexo identitário. In Barata, André, Pereira, António Santos, & Carvalheiro, José Ricardo (Orgs.), Representações da Portugalidade. Lisboa: Editorial Caminho.
Bazin, André (1958). Qu’est-ce que le Cinéma? Paris: Editions du Cerf.
Bello, Maria do Rosário Lupi (2008). Narrativa Literária e Narrativa Fílmica. O caso de “Amor de Perdição”. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian/FCT. 1.ª ed. 2005.
Bello, Maria do Rosário Lupi (2022). Tempo e Narrativa no Cinema de Manoel de Oliveira. Lisboa: Tinta da China.
Castelo Branco, Camilo (s.d.) Amor de Perdição. Memórias de uma família. Realização Didáctica de Luís Amaro de Oliveira. Porto: Porto Editora.
Clemente, Manuel (2009). Portugal e os portugueses. Lisboa: Assírio & Alvim.
Coelho, Jacinto do Prado (1983). Introdução ao estudo da Novela Camiliana. 2 volumes. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda. 1.ª ed. 1946.
Eliot, T. S. (1962). Notes Towards the Definition of Culture. London/Boston: Faber and Faber. 1st ed. 1948.
Jahanbegloo, Ramin (2000). Quatro Entrevistas com George Steiner. Lisboa: Fenda.
Lisboa, Eugénio (1978). José Régio, uma literatura viva. Lisboa: Instituto de Cultura Portuguesa – Biblioteca Breve.
Lopes, Silvina Rodrigues (2011). Mensagem e a desconstrução da portugalidade. In Barata, André, Pereira, António Santos, & Carvalheiro, José Ricardo (Orgs.), Representações da Portugalidade. Lisboa: Editorial Caminho.
Lourenço, Eduardo (1999). Portugal como Destino seguido de Mitologia da Saudade. Lisboa: Gradiva.
Mattoso, José (2008). A identidade nacional. 4.ª edição. Lisboa: Gradiva.
Nussbaum, Martha C. (2003). Cultivating Humanity. A Classical Defense of Reform in Liberal Education. Cambridge/London: Harvard University Press, 1st ed. 1997.
Pascoaes, Teixeira de (2007). Arte de Ser Português. Lisboa, Assírio & Alvim.
Pereira, António dos Santos (2011). Decadentismo nacional e identidade portuguesa”. In Barata, André, Pereira, António Santos, & Carvalheiro, José Ricardo (Orgs.), Representações da Portugalidade. Lisboa: Editorial Caminho.
Reis, Carlos (2018). Dicionário de Estudos Narrativos. Coimbra: Almedina.
Scruton, Roger (2020). A cultura moderna. Lisboa, Edições 70.
Todorov, Tzvetan (2007). La littérature en péril. Paris: Flammarion.
Outras – leitura complementar:
Aguiar e Silva, Vítor (2010). As Humanidades, os Estudos Culturais, o ensino da Literatura e a Política da Língua Portuguesa. Coimbra: Almedina.
Bresson, Robert (2003). Notas sobre o Cinematógrafo. Tradução e Posfácio de Pedro Mexia. Porto: Elementos Sudoeste/Porto Editora.
Feijó, António M., & Tamen, Miguel (2017). A Universidade como deve ser. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Finkielkraut, Alain (Dir.) (2006). Ce que peu la littérature. Paris: Gallimard.
França, José-Augusto (1991). A arte e a sociedade portuguesa no século XX (1910-1990). 3.ª edição actualizada. Lisboa, Livros Horizonte.
Leão, F. Cunha (1998). O enigma português. Lisboa, Guimarães Editores.
Lisboa, Eugénio (1988). José Régio ou a Confissão Relutante. Lisboa: Rolim.
Pires, António Machado (1992). A ideia de decadência na Geração de 70. Lisboa: Vega.
Tarkovsky, Andrei (1996). Sculpting in time. Austin: University of Texas Press.
E-learning
A avaliação inclui a realização de trabalhos e a participação regular e pertinente nos diversos fóruns ao longo do semestre, bem como um trabalho final.
Embora a leccionação se realize em português, é exigido que os estudantes sejam capazes de ler em língua inglesa e é conveniente que o façam com razoável proficiência em língua francesa.